domingo, 30 de março de 2008

China dá ultimato a manifestantes no Tibete; Lhasa está sob toque de recolher

15/03/2008
17h09

da Folha Onlin
Reuters, em Pequim

Em meio às mais violentas manifestações pela independência do Tibete em duas décadas, o governo autônomo da região --controlada pelo governo central da China-- deu um ultimato para que os protestos cessem. O ultimato vai até a 0h de segunda-feira (13h deste domingo em Brasília).
Enquanto isso, a capital Lhasa está sob toque de recolher. Neste sábado, a polícia e o Exército chineses ocuparam as ruas da cidade. Com isso, todo o comércio está fechado. A comunicação telefônica também está interrompida, e jornalistas e turistas estão impedidos de entrar na cidade.
Segundo fontes oficiais do governo chinês, dez pessoas já morreram nos protestos. Seriam todos chineses agredidos pelos manifestantes, diz a agência de notícias oficial Xinhua. Porém, a contagem das entidades ligadas aos exilados tibetanos na Índia já atinge cem.
Os protestos --que pretendiam relembrar a proximidade dos 50 anos das revoltas que levaram o dalai-lama ao exílio-- acontecem justamente quando se questiona a questão dos direitos humanos na China devido à proximidade dos Jogos Olímpicos em Pequim, que ocorrerá em agosto.
Em um comunicado neste sábado, representantes do Poder Judiciário do Tibete disseram que eximirão de punições aqueles que se arrependerem. "Os criminosos que não se renderem após a data-limite serão severamente punidos de acordo com a lei", disse o governo do Tibete através de sua página na internet (www.tibet.gov.cn).
O governo do Tibete informou ainda que dará recompensas e proteção às pessoas que derem informações sobre os manifestantes.
Mas as pressões internacionais para que Pequim não aja duramente já começaram. Austrália, Estados Unidos e União Européia pediram que o governo chinês encontre uma solução pacífica para a questão. Já Taiwan --que a China também diz ser seu-- já condenou o governo chinês pela sua reação às manifestações.
Segundo a agência "Xinhua", dez "inocentes civis" foram mortos com tiros ou queimados nas ruas de Lhasa, a capital tibetana. Também haveria 12 policiais "gravemente feridos" e 22 prédios e dezenas de veículos queimados.
Porém, fontes das lideranças tibetanas no exílio questionam os números, dizendo que ao menos cinco manifestantes foram mortos pela polícia chinesa. Organizações que monitoram a questão do Tibete diz que há pelo menos 32 mortos, e o governo tibetano em exília já contabiliza cerca de 100.
Os protestos se iniciaram com a junção de diversas questões: os protestos pelos direitos humanos pré-Olimpíadas, descontentamento com as severas práticas de controle do Partido Comunista Chinês na região e a proximidade do aniversário de 50 anos dos protestos que levaram o dalai-lama ao exílio.
As manifestações desta semana são consideradas as mais violentas no Tibete desde 1989. Naquele ano, Pequim decretou a lei marcial em Lhasa após as manifestações.
As manifestações começaram na segunda-feira no mosteiro de Deprung, quando 500 monges quiseram comemorar de maneira pacífica os 49 anos da rebelião de 1959 contra o domínio da China, iniciado em 1951. Os protestos, no entanto, foram se intensificando ao longo da semana e se estenderam até sexta-feira, quando atingiram seu auge com a adesão de civis às manifestações dos monges, que entraram em confrontos com a Polícia e grandes distúrbios.
Os manifestantes atacaram os escritórios do governo, queimaram veículos e lojas e atiraram pedras na polícia --o que causou um grande número de feridos. A televisão chinesa mostrou grupos de manifestantes atacando lojas e tentando quebrar a entrada de um banco, além de atear fogo na cidade.
O governo chinês acusa o dalai-lama --o líder espiritual do budismo, a religião da maioria absoluta dos tibetanos-- de arquitetar os protestos, aproveitando a proximidade dos Jogos Olímpicos. A tocha olímpica, inclusive, passará pelo Tibete nas próximas semanas.
Em declarações à emissora "Radio Free Asia", dalai-lama fez dois pedidos: um, "aos líderes chineses, para que parem de usar a força e reduzam o longo ressentimento do povo tibetano através do diálogo com ele" e outro a "seus compatriotas tibetanos para que não recorram à violência."

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