domingo, 30 de março de 2008

Monges são dispersados com gás lacrimogêneo no segundo dia de protestos


12/03/2008



PEQUIM (AFP) — A polícia chinesa dispersou na terça-feira com bombas de gás lacrimogêneo em Lhasa, pelo segundo dia consecutivo, uma manifestação de centenas de monges budistas, incluindo alguns que exigiam a independência do Tibete, informou a Radio Free Asia (Rádio Ásia Livre, RFA).
Quase 600 monges seguiram na terça-feira de seu mosteiro em direção à sede da polícia para pedir a libertação dos companheiros presos na segunda-feira durante uma manifestação organizada por ocasião do 49º aniversário da partida forçada do Dalai Lama, o líder espiritual dos budistas tibetanos, segundo a emissora, que tem sede nos Estados Unidos.
Os protestos se somam às manifestações de tibetanos na Índia e Nepal, que recordaram o controle da China sobre o território do Himalaia a cinco meses dos Jogos Olímpicos de Pequim.
Em Lhasa, alguns manifestantes voltaram a defender a independência do Tibete, segundo a RFA.
Ao chegar à sede da polícia, 2.000 policiais lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra os monges. A emissora não informou se o protesto terminou com prisões.
De acordo com a RFA, 300 monges participaram na manifestação de segunda-feira e 60 foram detidos.
Os protestos coincidem com uma marcha simbólica até o Tibete de cerca de cem tibetanos exilados no norte da Índia, apesar da oposição policial, para protestar contra as violações aos direitos humanos cometidas pela China nesse território, cinco meses antes da realização dos Jogos Olímpicos em Pequim.
Na segunda-feira, a polícia indiana impediu que estes refugiados, que percorreram 20 km a partir de Dharamsala (norte da Índia), onde há 49 anos vive o Dalai Lama, líder dos budistas tibetanos, realizassem a caminhada.
"Prosseguiremos com nossa marcha para nossa pátria, apesar de termos sido proibidos", declarou B. Tsering, que dirige a Associação de Mulheres Tibetanas.
"O governo chinês usa os Jogos Olímpicos para legitimar a ocupação ilegal do Tibet, que pertence aos tibetanos. Nunca renunciaremos até que o Tibete seja independente", afirmou o organizador da marcha, Tsewang Rigzin, presidente do Congresso da Juventude Tibetana.
O Dalai Lama denunciou na segunda-feira a repressão chinesa no Tibete, em uma declaração de incomum severidade por ocasião do 49º aniversário de seu exílio.
O Prêmio Nobel da Paz em 1989, cuja causa voltou a ganhar apoio no Ocidente nos últimos meses, criticou "as enormes e inimagináveis violações dos direitos humanos cometidas pela China no Tibete", que chegam à "negação da liberdade religiosa".
"Há seis décadas os tibetanos vivem de forma permanente com medo e sob a repressão chinesa", denunciou diante de partidários reunidos em Dharamsala, seu local de exílio no norte da Índia.
Os comentários severos constratam com a moderação adotada nos últimos anos pelo Dalai Lama em relação à China, país que acusa no entanto de "agressão demográfica" por uma política de colonização acelerada que leva a "uma espécie de genocídio cultural".
O Dalai Lama, de 72 anos, fugiu com milhares de seguidores para a Índia há exatamente 49 anos, em 1959, depois da chegada ao Tibete das tropas comunistas de Mao Zedong para sufocar uma rebelião antichinesa.
O líder religioso reafirmara no sábado o direito de Pequim organizar os Jogos Olímpicos em agosto, depois de ter sido acusado pela principal autoridade chinesa na Região Autônoma do Tibete de tentar "sabotar" o evento esportivo.
O Dalai Lama abandonou há alguns anos as reivindicações de independência e defende uma "ampla autonomia" dentro de uma "via intermediária" para salvar a língua, a cultura e o meio ambiente deste território localizado no Himalaia.
A China, que controla o Tibete desde 1950 (um ano após a vitória de Mao na guerra civil chinesa), aplicou uma política de sangrenta repressão aos partidários do Dalai Lama, venerado pelos tibetanos, e rejeita suas demandas.
Segundo analistas, o Dalai Lama, frustrado pela recusa de Pequim a todas suas demandas de autonomia cultural para o Tibete, tenta acentuar a pressão às vésperas dos Jogos Olímpicos, multiplicando suas atividades internacionais.

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