domingo, 30 de março de 2008

Dalai Lama pretende apresentar sua renúncia se a violência continuar

18/03/2008
10:10:16

O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, acusou nesta terça-feira o Dalai Lama de incitar a atual onda de violência que tomou conta do Tibet desde o último dia 10, quando se iniciaram os protestos de tibetanos contra o domínio chinês. Como resposta, o líder espiritual negou todas as acusações e disse que renunciará ao posto de líder tibetano se a situação sair do controle no Tibet.
- Se as coisas ficarem fora de controle, então minha única opção é renunciar completamente -disse o Dalai Lama, numa entrevista coletiva em sua base em Dharamsala, no norte da Índia.
Em uma coletiva de imprensa, o premiê Wen disse que a alegação do líder espiritual tibetano de que as autoridades chinesas cometeram um genocídio cultural no Tibete não passa de mentira, assim como seu desejo de dialogar.
- Há ampla evidência provando que esse incidente foi organizado, premeditado, arquitetado e incitado pelo bando do Dalai. Isso tudo revelou que as alegações do bando do Dalai de que eles buscam não a independência, mas sim o diálogo pacífico, não passam de mentiras - disse Wen.
O Dalai Lama disse que não tem nada o que esconder da China:
- Investiguem a fundo, se quiserem começar a investigar aqui, sejam bem-vindos. Chequem nossos vários escritórios. Eles podem examinar meu pulso, minha urina, minha almofada, tudo - disse ele rindo e fazendo mímica enquanto falava.O Dalai Lama, que vive no exílio na Índia desde 1959, negou todas as acusações da China e disse ser contra a violência, venha ela da China ou dos tibetanos.
- Mesmo se mil tibetanos sacrificassem suas vidas, não ajudaria. Por favor, ajudem a parar com a violência do lado da China e também do lado do Tibet - disse ele a repórteres.
Segundo Samdhong Rimpoche, o primeiro-ministro do governo exilado, o Dalai Lama, quando disse que renunciaria ao posto de líder, quis dizer que continuaria a ser o Dalai Lama, mas sem o poder de liderança.
- Se o povo tibetano se envolver com a violência e não puder agir de forma não-violenta, ele não estaria em condições de liderá-lo - disse Rimpoche.
O Dalai Lama - que ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1989 por sua oposição ao uso de violência na busca pela autonomia do Tibete - já apelou várias vezes pelo diálogo com a China.
Os protestos, que já são considerados os maiores e mais violentos dos últimos 20 anos, começaram como uma reação à notícia de que monges budistas teriam sido presos depois de realizar uma passeata para marcar os 49 anos de um levante tibetano contra o domínio chinês.
Wen acusou também os manifestantes de tentar sabotar os Jogos Olímpicos de Pequim, que começam no dia 8 de agosto.
- De fato, vocês, os repórteres, podem ver a essência do incidente recentemente ocorrido no Tibet. Eles querem incitar a sabotagem aos Jogos Olímpicos para obter seu terrível objetivo.
Ele disse ainda que a resposta do governo chinês aos protestos foi moderada, de acordo com a lei.
Segundo o governo chinês, 13 pessoas foram mortas por manifestantes em Lhasa, a capital do Tibet. No entanto, tibetanos que vivem no exílio disseram que pelo menos 80 manifestantes foram mortos pelas forças de segurança chinesas durante a repressão aos protestos.
Os comentários do primeiro-ministro da China foram os primeiros desde o início da onda de violência.


Jogos Olímpicos

Nesta segunda-feira, ministros dos Esportes e representantes dos comitês olímpicos de países europeus descartaram a possibilidade de boicotar a Olimpíada de Pequim por causa da repressão aos recentes protestos no Tibete.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse estar preocupado com a violência no Tibete e pediu que a China seja tolerante com os manifestantes.
- Neste momento, faço um apelo às autoridades para que mostrem comedimento e peço a todos os envolvidos que evitem mais confrontos e violência, disse Ban.
Os protestos entraram em sua segunda semana e se espalharam para províncias próximas da região do Himalaia, como Gansu, Qinghai e Sichuan. Em Lhasa, é grande o número de policiais nas ruas. Às 13h desta segunda-feira (horário de Brasília), venceu um prazo do governo chinês para que os manifestantes se entregassem à polícia ou ficassem sujeitos a punições.


Protestos internacionais

Em várias cidades do mundo, a segunda-feira foi marcada por protestos contra a China pela repressão aos protestos tibetanos.
Na Alemanha, segundo a agência de notícias Associated Press, 26 manifestantes foram presos durante um protesto em frente ao consulado chinês em Munique.
A agência Reuters também informou que estudantes tibetanos fizeram uma vigília com velas em Pequim. Os manifestantes diziam que estavam rezando pelos mortos nos protestos.
Em Londres, manifestantes se reuniram em frente à embaixada chinesa com faixas e cartazes e chegaram a atirar paus, tomates e ovos na fachada do prédio.
Em uma coletiva, o ministro do exterior britânico, David Miliband, disse que espera que a China tenha aprendido a "lição" dos "eventos trágicos dos últimos dias, de que um diálogo sério é a única forma de avançar".

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