domingo, 30 de março de 2008

Tibete tem vários mortos em manifestações contra China



14/03/2008




PEQUIM (AFP) — Depois de um dia de confronto entre a polícia e manifestantes, que deixou vários mortos, a situação era considerada incerta na noite desta sexta-feira na capital do Tibete, Lhasa, onde a agência oficial Xinhua anunciou a volta à calma.
Nenhum morador ouvido por telefone pôde confirmar se prosseguiam os incidentes ou se estava em vigor um toque de recolher, explicando que ninguém saía de casa há várias horas.
"Não há ninguém fora a esta hora, nem os tibetanos nem os 'hans' (etnia chinesa maioritária). Só estão nas ruas os que fazem a guarda", declarou o empregado de uma escola de Lhasa.
A International Campaign for Tibet (ICT), um movimento de defesa da causa tibetana, afirmou que as autoridades "decretaram a lei marcial", com base em algumas fontes.
"Tentamos confirmar as informações", precisou à AFP em Washington o responsável por este movimento, Ben Carrdus. A ICT tem sede nos Estados Unidos.
Vários recepcionistas de hotéis ouvidos pela AFP disseram que "tudo estava calmo", confirmando a informação da agência Xinhua, após "um dia conturbado no qual vidraças foram quebradas e lojas, queimadas"; um templo teria sido incendiado deixando várias pessoas feridas".
As autoridades chinesas culpam o líder espiritual Dalai Lama pelos episódios.
A cinco meses dos Jogos Olímpicos de Pequim, num momento em que a campanha de contestação tibetana aumenta contra o poder chinês, os protestos estão sendo considerados os mais significativos desde o levante dos tibetanos em março de 1989.
A violência irrompeu na véspera na cidade de Lhasa, em particular em torno do célebre mosteiro de Jokhang, um local de grande atração turística, após vários dias de manifestações de monges budistas.
Apelos à moderação foram expedidos de várias capitais estrangeiras, assim como do Dalai Lama, o líder religioso no exílio dos budistas tibetanos, que pediram à China para "não usar à força" no Tibete.
"Claro que há mortos", declarou mais cedo à AFP por telefone uma funcionária do centro médico de urgência. "Estamos ocupados com os feridos, há muitos aqui", acrescentou, sem precisar se as vítimas eram monges.
A Radio Free Asia (RFA), citando testemunhas em Lhassa, anunciou pelo menos dois mortos.
Os manifestantes "saquearam lojas chinesas e a polícia respondeu atirando contra a multidão. Ninguém tem o direito de se deslocar em Lhasa agora", informou uma fonte tibetana à rádio com sede nos Estados Unidos.
Citando relatos de cidadãos americanos, a embaixada dos Estados Unidos em Pequim informou que muitos tiros foram ouvidos - uma notícia endossada por uma turista estrangeira em declarações à AFP.
"Ouvimos tiros", disse ela, precisando que estava hospedada num hotel bem central.
Segundo o Dalai Lama, "estes protestos são uma manifestação do profundo ressentimento do povo tibetano com o poder atual. Peço aos líderes chineses que parem de usar a força", concluiu.
Estes protestos se somam às recentes manifestações de tibetanos na Índia e no Nepal contra o controle da China sobre este território do Himalaia.
Segundo uma enfermeira de um hospital de Lhasa, ouvida pela AFP, pelo menos 12 pessoas ficaram feridas.
Desde o início da semana os monges budistas se manifestam no Tibete e nas regiões próximas onde vivem as minorias tibetanas, por ocasião do 49º aniversário do levante de Lhasa, que levou o Dalai Lama ao exílio.
Focos de incêndios foram detectados no mercado da antiga cidade de Lhasa, o Barkhor, que circunda o principal mosteiro da capital tibetana, indicaram os bombeiros e um grupo de defesa dos direitos dos tibetanos.
A agência oficial e testemunhas também indicaram que "lojas foram queimadas em atos de violência no centro de Lhasa na tarde desta sexta-feira".
Na segunda e na terça-feira passadas em Lhasa a polícia chinesa dispersou a multidão com bombas de gás lacrimôgeneo durante manifestação de centenas de monges budistas, alguns dos quais exigiam a independência do Tibete.
Cerca de 600 monges realizaram uma passeata na terça-feira de seu mosteiro até a sede da polícia para pedir a libertação de seus companheiros presos durante uma ação organizada para lembrar o 49º aniversário da saída forçada do Dalai Lama.
Pelo menos 200 pessoas lideradas por monges budistas iniciaram um protesto nesta sexta-feira à tarde em Xiahe, cidade de uma região tibetana do noroeste da China, constatou um fotógrafo da AFP.
Em Xiahe está localizado o mosteiro Labrang, um dos templos budistas fora da região autônoma tibetana.
Em Washington, a Casa Branca "lamentou" os episódios de violência no Tibete e pediu que a China respeite a cultura tibetana.
"Pequim precisa respeitar a cultura tibetana. Precisa respeitar a sua sociedade multiétnica", disse o porta-voz da Casa Branca Gordon Johndroe.
Já os líderes europeus participantes de uma reunião de cúpula em Bruxelas instaram as autoridades chinesas a mostrar "moderação".
"A presidência eslovena (da União Européia) propôs um texto de três páginas que pede moderação e que as pessoas detidas em manifestações pelo Tibete sejam libertadas", declarou o ministro das Relações Exteriores francês, Bernard Kouchner, ao final da reunião de cúpula.
"Pedimos claramente que sejam garantidos o respeito aos direitos humanos. Nossa condenação é veemente e procede do conjunto do Conselho Europeu e dos 27 países membros", acrescentou.

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